terça-feira, 24 de novembro de 2015

É melhor estar alegre que triste? : DIVERTIDAMENTE

A empresa de animação Pixar, pertencente ao grupo Disney, é famosa por seus filmes infantis que sempre ensinam algo para as crianças e também para os adultos.Recentemente, li um artigo interessante sobre o tema, exemplificando diversos momentos em que os desenhos tocavam em temas profundos e difíceis, como separação e  morte por exemplo.

Agora, a animação DIVERTIDAMENTE ( Inside Out/2015), retrata algumas das emoções conhecidas em nossa vida: Alegria, Tristeza, Raiva, Nojo e Medo. Todas as emoções vivem dentro da cabeça de uma garota de onze anos, chamada Riley.

A produção, que contou com a ajuda de cientistas, em uma tentativa de aproximar a ficção da realidade e desta forma,  validar o processo criativo dos produtores da animação, tornou-se um sucesso mundial, por novamente tratar de um tema tabu: a importância da Tristeza, no equilíbrio emocional .

No início do filme, vemos a personagem Alegria como a emoção principal,sugerindo que a garota Riley é uma menina feliz, que vive em um ambiente familiar acolhedor, com pais e amigos amorosos.

As demais emoções, ainda que não tão desejadas pela solar Alegria, têm um papel importante na "defesa"da personagem principal- protegem a garota de situações de riscos, de injustiça ou constrangimento.

A Tristeza entretanto, parece de fato incomodar  a todos. Seu pessimismo constante, seu abatimento diante da vida, são encarnados em uma rechonchuda garota azul, de óculos, que se locomove devagar e reclama o tempo todo.

A personagem é exatamente o oposto da lânguida Alegria: lépida, feliz , otimista e ...magra.
O contraste entre as duas é visível. Ambas  encarnam todos os estereótipos que a sociedade atual impõe: ser bem sucedido, feliz o tempo todo e principalmente em forma, a partir de uma ditadura de um corpo ideal.

Com o desenrolar das aventuras, a vida da menina Riley sofre algumas mudanças, que deixam  suas emoções confusas e sem "gerenciamento" adequado, da mesma forma que ocorre com nós humanos em uma situação de crise. 

O filme sugere através de uma metáfora, o esforço da Alegria de transformar todas as situações vividas por Riley, em experiências prazerosas, o que é claro, não costuma dar certo. A tentativa principal da intrépida Alegria, é  evitar a todo custo que a Tristeza se manifeste e manche as memórias da menina com recordações tristes.

E esta não é  justamente a tentativa diária que todos nós fazemos? Vivemos em um mundo que supervaloriza a felicidade como um ideal de busca constante, e faz como que evitemos a tristeza a todo custo. 

Mas será possível ser feliz o tempo todo? A resposta é não. Claro que nosso objetivo de vida deve ser a tentativa de ser feliz, porém neste caminhar que chamamos de vida, a tristeza, assim como todas as emoções são fundamentais para nosso equilíbrio e até mesmo para a  tão sonhada felicidade.

A grande sacada de DIVERTIDAMENTE é a descoberta de que a Tristeza nos faz repensar caminhos. Quando tudo está bem, quando acertamos, dificilmente mudamos de rota. Por que? Simples, porque não é necessário.( Afinal, em time que está ganhando não se mexe).

A Tristeza, indica que falhamos, que erramos, ou que não conseguimos exatamente o que queríamos e qual é o problema nisso? Nenhum. Ao contrário, quando nem tudo vai bem, podemos abrir a possibilidade de pedir ajuda ao outro. De escutar um conselho, de receber apoio e carinho e de recalcular a rota e recomeçar.

A Tristeza nos dá a possibilidade de evoluir, de mudar, de aprender algo novo e de buscar novamente a Alegria. Nos mostra que podemos apoiar e também ser apoiados, que podemos errar e ainda assim sermos amados! Quer motivo melhor para isso do que valorizar não só a  Tristeza, mas todas as nossas emoções e sentimentos que sabemos que são muitos.

Assim aprendemos que nada em nossa vida é completamente bom ou totalmente mau, e que esta dicotomia na verdade é uma invenção.  O melhor é ter todas a emoções disponíveis como uma paleta colorida à disposição para criar nosso  caminho, cheio de memórias e vivencias de todas as cores que a gente de fato quiser.